Fazenda soma mais de 200 anos de história

Terras ocupadas pelo Swiss Park Campinas trazem na sua história os áureos tempos da produção agrícola e o pioneirismo do Visconde de Indaiatuba

No passado, a Fazenda Sete Quedas foi marcada por histórias de gerações de famílias, fundamentais para a memória de Campinas, de títulos nobres e também de imigrantes italianos e alemães que vieram trabalhar como colonos nas terras brasileiras em busca de uma vida melhor.

Talvez um dos nomes mais expressivos na genealogia sucessória da Fazenda Sete Quedas seja do Visconde de Indaiatuba, título honorífico do fazendeiro Joaquim Bonifácio do Amaral. Ele foi o primeiro fazendeiro a substituir na região a mão de obra escrava por imigrantes alemães. Mas a Fazenda Sete Quedas também abrigou um grupo de imigrantes italianos que chegou ao Brasil e veio direto para a fazenda trabalhar nas lavouras.

Essas e outras lembranças são contadas por descendentes de outro proprietário da Fazenda, Fernão Pompeu de Camargo, que virou nome de rua em Campinas, considerado um liberal que experimentou plantar até algodão. Antes, sair do centro de Campinas e visitar a Fazenda era uma “viagem” e, agora, é um trajeto de apenas dez minutos. Como marco e centro dos áureos tempos, segue até hoje o casarão. Preservado há mais de dois séculos, ele resiste firmemente ao tempo e se integra à modernidade.

Em 1802, o tenente José Rodrigues Ferraz do Amaral comprou as terras de José Antonio de Figueiró e Isabel Correia da Cunha, por 260 mil réis. Na literatura histórica, a área foi descrita como “um sítio e terras a eles (Figueiró e Isabel) pertencentes, na paragem chamada sete quedas”. Na época, segundo documento citado por Celso Maria de Mello Pupo, no livro “Campinas, Município no Império”, a propriedade continha “dois laços de casa de taipa de pilão coberta de telhas”. Depois, Amaral comprou terras vizinhas e ampliou a propriedade. A área transformou-se em um latifúndio que, na sequência, foi dividido em várias fazendas como Jambeiro, Cachoeira e Pedra Grande.

A Fazenda Sete Quedas era a sede deste latifúndio e continuou depois do desligamento das outras fazendas com o mesmo proprietário até o seu falecimento, em 1819. Os filhos de Amaral herdaram a propriedade, porém, a sede ficou com o Visconde de Indaiatuba. Em 1885, a Fazenda pertencia à Viscondessa de Indaiatuba, com 312 mil pés de café em terra massapé, com máquinas de benefício à água e terreiros atijolados. Em 1900, a Fazenda era da filha e do genro do Visconde, Jessy e Augusto de Sousa Queirós, com uma produção de 17 mil arrobas de café. Em 1914, pertencia à viúva Jessy do Amaral Souza Queirós, com 500 alqueires de terras e 400 mil pés de café. A Sete Quedas foi então concedida a Fernão Pompeu de Camargo, sobrinho dos Viscondes e o primeiro presidente da Sociedade Hípica de Campinas. Fernão vendeu a Fazenda para Aurélio Belotti. Na década de 70, a Fazenda foi adquirida pelo banqueiro Amador Aguiar, do Bradesco, o que explica o nome Fazenda Bradesco.

moinho-swiss-park-campinas Áureos tempos

Fernão Pompeu de Camargo morou durante toda sua vida na Fazenda. Ele morreu aos 75 anos, em 1952, em Campinas, poucos anos depois de ter vendido a propriedade para Belotti. A esposa de Fernão, Izaura de Queiros Pompeu, faleceu aos 84 anos em 1958. Os áureos tempos da Fazenda eram expressos pela imponência da arquitetura da casa grande e no mobiliário sofisticado – boa parte importada e atualmente peça de antiquário. A mesa de jantar, usada nas festas familiares, tinha 36 cadeiras. Depois que a Fazenda foi vendida, os móveis foram utilizados para mobiliar 14 casas de parentes.

Descendentes

O economista aposentado Fernão Pompeu de Camargo Neto, volta à infância e cita o cachorro da fazenda, que percorria as belas escadarias de madeira maciça.

Nos dias de hoje é possível ver no Swiss Park Campinas não só o madeiramento de 200 anos preservado do corrimão, pilar e chão, como também as portas e batentes (madeira ipê) e demais pisos do casarão. Gradis, fechaduras e os vidros decorados da parte superior das portas duplas também são do tempo de Visconde de Indaiatuba, muito antes de Fernão.

O irmão de Fernão Neto, o mecânico de manutenção aposentado Marcelo Pompeu de Camargo, lembra do pomar da Fazenda Sete Quedas e da personalidade arrojada do avô. “Ele era liberal; era defensor do trabalho livre de imigrantes no campo, era querido por descendentes de escravos e uma de suas características era a coragem de empregar novidades nas terras. Ele foi experimentador de culturas agrícolas. Na década de 20, chegou a introduzir até algodão. Foi o primeiro a usar o termo meeiro na região”, conta Marcelo. A cultura de algodão era incomum na redondeza. E como o algodão não era aclimatado na região, a iniciativa não teve vida longa.

A outra neta de Fernão, a socióloga da Puc-Campinas, Dulce Maria Pompeu de Camargo, lembra do tempo em que sair de Campinas e visitar a fazenda dos avós, onde hoje é o Swiss Park Campinas (a dez minutos do centro da cidade), era uma viagem. O caminho que faziam virou nome de rua em Campinas, Fernão Pompeu de Camargo, no bairro Jardim do Trevo.

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Capela

Um dos pontos mais bonitos da Fazenda Sete Quedas e que pode ser usufruído nos dias de hoje é a Capela de Santo Antônio. Aconchegante e simples, a igrejinha tem belas imagens do seu santo homenageado e é usada hoje para terços e celebrações especiais. A arquitetura da capela acompanha o estilo da sede da fazenda, bem como a infraestrutura das demais construções da época dos nobres moradores. Em meio a arbustos e árvores, a capela é um convite a momentos de paz e harmonia com a natureza. Próximo da capela há um conjunto arquitetônico ímpar e que serve de cartão postal do Swiss Park Campinas. Com ares medievais, a romântica ponte e o antigo moinho de vento encantam futuros moradores e visitantes. A construção é mais recente. Mas, sem dúvida, também é um patrimônio do empreendimento. Ao passar pelo local, os visitantes podem ser tomados por várias imagens ao mesmo tempo, como Dom Quixote, Romeu e Julieta ou Em Algum Lugar do Passado. Inserido na paisagem exuberante, o lugar também é um convite a boas horas de lazer e convívio.

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