Cidade de 15 minutos: valorização da conveniência

Quanto tempo você gasta diariamente até chegar e voltar do trabalho? Consegue ir caminhando até algum mercado ou farmácia perto de casa? E no tempo livre, precisa sempre de carro para se locomover? Esses questionamentos, que nem sempre são prioridade na escolha de um bairro para morar, formam a base de uma nova proposta de organização urbana, a Cidade de 15 minutos

O que é uma Cidade de 15 minutos?

Já era banal passar algumas horas preso no trânsito ou procurando uma vaga de estacionamento, fosse por um compromisso de trabalho ou mesmo nos momentos de lazer. Com a pandemia, entretanto, muitas pessoas alteraram a rotina e redescobriram os serviços, comércios e áreas de lazer próximos de casa, com a crescente valorização do comércio local.  

É justamente essa conexão que propõe a Cidade de 15 minutos, conceito desenvolvido por Carlos Moreno, professor da Sorbonne, inspirado no trabalho de Jane Jacbos, autora de Morte e Vida nas Grandes Cidades, que reforça os bairros como centros sociais, culturais e comerciais mais independentes. 

De forma geral, a proposta sugere que em qualquer bairro você poderia encontrar serviços essenciais, conveniências e pontos de lazer ao caminhar ou andar de bicicleta por menos de 15 minutos, sem a necessidade de atravessar a cidade todos os dias. 

A mudança é baseada em quatros pilares: ecologia, proximidade, solidariedade e a participação popular, muito além de uma reforma de edifícios ou sinalização de rua. “O ritmo da cidade deve seguir os homens, não os carros”, defende Moreno no TED sobre o tema. “Por que temos que nos adaptar e estragar nossa qualidade de vida em potencial? Por que não é a cidade que atende às nossas necessidades?”, enfatiza o professor. A proposta, portanto, também quebraria alguns paradigmas e a noção de bairros periféricos, sem acesso aos serviços essenciais. 

O professor reforça que para funcionar, a Cidade de 15 minutos precisa da integração da vizinhança. É importante que o morador crie esse senso de comunidade mais forte, um sentimento de pertencimento, aproveitando os comércios, serviços e centros de lazer do próprio bairro.


Entre os benefícios da Cidade de 15 minutos está a sugestão de uma rotina menos dependente dos carros, o que também tem impacto na proteção ambiental, reduzindo a poluição, o trânsito, os ruídos, os acidentes etc. Em geral, menos estresse urbano. 

E se até agora essa ideia de bairros planejados parece impossível ou restrita às cidadezinhas do interior, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, foi reeleita em 2020 justamente por trazer uma proposta ousada de descentralizar serviços, retirada carros das ruas e a aposta na sustentabilidade. No projeto, além do plantio maciço de árvores, ciclovias interligarão as ruas da capital francesa, com menos 60 mil vagas de estacionamento. 

Com a orientação de Carlos Moreno, consultor da Prefeitura de Paris desde 2015, as melhorias não ficarão restritas aos bairros de maior interesse imobiliário ou aos pontos turísticos mais badalados. Para haver uma mudança na rotina dos parisienses, é necessário que mesmo regiões menos conhecidas também sejam atendidas. 

Entre as críticas, há quem indique que o projeto da Cidade de 15 minutos leva à administração pública uma preocupação que deveria ser do mercado, gerido pela demanda dos consumidores, ou quem acredite que será difícil deixar de frequentar os locais mais badalados da cidade, mas Moreno explica que a cidade deve ser um elemento regulatório, inclusive, oferecendo espaços de locação acessível para comércios de baixa rentabilidade, com livrarias, galerias e centros culturais.


Em Campinas, o Swiss Park é um complexo urbanístico projetado com estrutura de serviços, escolas, restaurantes e lojas dentro do bairro em 212 lotes comerciais integrados aos residenciais. Para empresas, escritórios e consultórios, o Swiss Park Office é um dos maiores condomínios corporativos da região. Não por acaso, o projeto ganhou o prêmio Master Imobiliário em 2014, justamente pelo desenvolvimento urbano, trazendo na prática propostas em voga no urbanismo

Ao deixar de gastar horas para ir ao mercado ou levar o filho na escola, com a possibilidade de resolver demandas em menos de 15 minutos perto de casa, a proposta é ter mais tempo livre e qualidade de vida, em todos os momentos. 

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